REFLEXÕES PARA TODOS: O Ninho de Bem-te-vis no Poste, conto, poema e vídeo

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O Ninho de Bem-te-vis no Poste, conto, poema e vídeo




O NINHO DE BEM-TE-VIS NO POSTE


No coração barulhento da cidade, onde o zumbido dos carros era a melodia constante e o sol batia impiedosamente sobre os telhados de cerâmica, erguia-se um poste de eletricidade como uma árvore sem folhas, mas com muitos fios. Dezenas deles, pretos, a maioria finos como teias de aranha, se entrelaçavam em um emaranhado quase impenetrável, cada um carregando a pulsação invisível da energia que alimentava as casas e as vidas lá embaixo.


Para a maioria, era apenas uma confusão feia e perigosa. Mas para um jovem casal de bem-te-vis, que acabara de chegar à cidade em busca de um lugar para chamar de lar, aquele poste era uma promessa. Eles haviam voado por muitos quilômetros, observando a paisagem mudar de campos verdejantes para o concreto cinza, e agora, no meio daquele caos urbano, uma ideia audaciosa nasceu em suas mentes.


"É perfeito!", cantarolou a fêmea, com seu peito amarelo vibrante refletindo o sol da manhã. "Ninguém vai nos incomodar aqui. É alto e seguro!"

O macho, um pouco mais cético, inclinou a cabeça. "Mas... os fios, querida. Não são perigosos?"

Ela riu, uma nota alegre que se perdia no burburinho da rua. "Bobagem! Vamos construir nosso ninho bem no meio, onde os fios se encontram. Será nosso refúgio particular, um segredo da cidade."


E assim começou a árdua tarefa. Dia após dia, os dois bem-te-vis trabalharam incansavelmente. Eles recolhiam gravetos, fios soltos (alguns da própria trama do poste, cuidadosamente retirados), penas e folhas secas. Com uma destreza impressionante, teciam e entrelaçavam, utilizando os próprios fios elétricos como fundação para a estrutura do ninho. Era uma dança delicada de bicos e patinhas, evitando os pontos energizados, mas aproveitando a intrincada rede como suporte.


As pessoas  que passavam por baixo mal notavam a pequena construção que se formava. Para eles, o poste era apenas um amontoado de cabos. Mas, lentamente, um ninho robusto e aconchegante começou a tomar forma, um milagre de engenharia aviária no coração da cidade.


Quando os três ovos azuis salpicados de marrom foram postos, o poste parecia vibrar não apenas com eletricidade, mas com uma nova vida. A mãe bem-te-vi chocava pacientemente, aquecida pelo sol e pelo estranho calor que parecia emanar dos fios. O pai, vigilante, afastava qualquer pombo ou pardal atrevido que ousasse se aproximar demais de seu entrelaçado castelo. Ele olhava ao redor, batia as asinhas e cantava animado várias vezes: _ “Bem-te-vi!”.


Os dias se transformaram em semanas. O chilrear dos filhotes recém-nascidos era um sussurro, quase inaudível no barulho da cidade, mas uma sinfonia para seus pais. Aquele ninho, construído com paciência e coragem em um lugar tão improvável, era agora o lar de uma nova geração de bem-te-vis, que aprenderiam a voar não sobre campos abertos, mas entre o emaranhado de fios, com a cidade como seu playground.


O poste, antes apenas um símbolo de tecnologia e conexão, agora abrigava uma história de vida e adaptação, um testemunho silencioso da resiliência da natureza, encontrando um lar mesmo no coração mais denso e eletrificado da cidade. E sempre que um bem-te-vi voava agilmente entre os fios, parecia um lembrete de que, mesmo no caos, a vida encontra um caminho para florescer.


Abaixo, o Poema, inspirado no conto.


O NINHO DE BEM-TE-VIS NO POSTE


Na barulhenta cidade, sol em telhado quente,

Poste de fios densos, emaranhado aparente.

Muitos viam perigo, caos da urbe a pulsar,

Para um casal de bem-te-vis, um novo lar a buscar.


Com bicos e patinhas, sem medo de voar,

Entre cabos vibrantes, começaram a tecer.

Gravetos, penas soltas, um ninho a surgir,

Milagre aviário, no poste a florir.


Três ovos azuis, promessa a brotar,

Calor dos fios, vida a aquecer.

Mãe bem-te-vi choca, pai a cantar "Bem-te-vi!",

Um castelo emaranhado, para a vida seguir.


Filhotes a piar, sinfonia na cidade,

Voos entrelaçados, da nova liberdade.

No caos urbano, um lar se fez brilhar,

A natureza ensina: no improvável, a vida está.


(Marcos Alves de Andrade)


Vídeo do Ninho de Bem-te-vis no Poste:




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