REFLEXÕES PARA TODOS: O Casal de Pombos no Alto do Poste, conto e poema

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O Casal de Pombos no Alto do Poste, conto e poema




O Casal de Pombos no Alto do Poste

O céu estava nublado, pesado, como se carregasse segredos que não queria revelar. Alguns respingos de chuva caíam aqui e ali, pintando as calçadas de um cinza mais escuro, mas sem a força de uma tempestade. Era só um aviso, um sussurro do tempo.  

No topo de um poste de iluminação, um casal de pombos se aconchegava. Eles não pareciam se importar com a umidade no ar ou com o vento que às vezes sacudia suas penas. O pombo, de plumagem mais acinzentada, as vezes bicava levemente a fêmea, que se aninhava contra ele, como se soubesse que aquele era seu lugar.  

Ao fundo, se estendia um bairro com suas casas simples, algumas com telhados vermelhos já desbotados pelo tempo, outras com varandas onde vasos de flores tentavam resistir ao clima. Uma ou outra luz se acendia nas janelas, indicando que, apesar do dia cinzento, a vida seguia dentro daquelas paredes.  

De repente, um vento mais forte passou, fazendo os pombos se agitarem por um instante. Mas eles não voaram. Apenas se ajustaram, um ao lado do outro, e continuaram ali, observando o bairro, a chuva miúda, o dia que se arrastava devagar.  

Era só mais uma manhã nublada, mas, para aqueles dois pombos, era tudo o que precisavam.

Abaixo, o Poema inspirado no conto acima.


O Casal de Pombos no Alto do Poste


No céu que chora em tons acinzentados,
O dia desperta, lento, em silêncio e cor,
Pombos se abraçam, ternos, enlaçados,
No alto do poste frio, compartilham calor.


A chuva sussurra entre telhas gastas,
O vento balança as flores na sacada,
Mas os dois, firmes, em asas tão castas,
Fazem do cinza uma cena encantada.


Com bicos suaves, trocam promessas,
Não dizem nada, mas tudo é sentido,
Na quietude morna de suas conversas,
O amor se abriga no gesto contido.


E mesmo que o vento venha e os desafie,
Eles não fogem, apenas se ajeitam,
Naquela manhã que o mundo esfria,
É no alto do poste que ficam e se aquecem.


(Marcos Alves de Andrade)






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