A Onça-pintada, Rainha do Pantanal
Dizem que, nas noites de lua cheia, o Pantanal silencia de um jeito diferente.
As araras se recolhem, os jacarés espiam com olhos imóveis, e até o vento parece esperar.
É nessas noites que Ela caminha. Seus olhos, duas lanternas âmbar, veem através da escuridão, encontrando cada curva do rio, cada trilha escondida.
A Onça-pintada, de pêlo dourado salpicado de sombras, é mais do que um animal — é uma lenda viva.
Os ribeirinhos a chamam de Rainha. Não porque ela governe com ordens, mas porque ninguém ousa desafiá-la.
Em uma madrugada no coração do Pantanal, a névoa baixa dançava sobre as águas tranquilas, e o canto distante das araras anunciava que o sol logo se levantaria. Entre as sombras da mata densa, ela surgia — a Onça-pintada, rainha absoluta daquele reino verde e dourado.
Seu corpo, coberto de manchas como se fosse obra de um pintor divino, movia-se com a elegância silenciosa de quem conhece cada curva do território. Não havia pressa em seus passos; ela sabia que a floresta obedecia ao seu ritmo. Seus passos eram tão leves que nem a areia sentia.
Os jacarés, ao ouvi-la, preferiam deslizar discretamente para a água. As capivaras ficavam imóveis, tentando se tornar parte da paisagem. Mas a rainha não caçava por impulso — apenas quando a fome falava mais alto.
Naquele amanhecer, ela subiu em um tronco caído, ergueu a cabeça e olhou para o horizonte, onde o céu se tingia de laranja. Naquele instante, parecia que o Pantanal inteiro se curvava diante de sua presença. A onça não precisava rugir para impor respeito; sua história estava gravada em cada folha, em cada rio, em cada batida de asa.
E assim, com um salto suave, desapareceu entre as sombras, deixando apenas o farfalhar das folhas como prova de que a rainha passara por ali — eterna guardiã e alma selvagem do Pantanal.
Poema inspirado no conto acima:
A Onça-pintada, Rainha do Pantanal
Nas noites de lua cheia, o silêncio se veste de espera,
o vento suspende o sopro, a mata inteira se aquieta.
Lá vem ela, com olhos de âmbar, cortando a noite sincera,
seguindo o rio e a sombra, dona da rota secreta.
Seu pêlo dourado, manchado de arte divina,
brilha como fogo guardado no ventre da selva.
Cada passo é realeza, cada olhar, disciplina,
o Pantanal se curva, e a própria vida se enleva.
Jacarés rendem-se à água, capivaras fingem ser chão,
pois a rainha não caça sem que a fome a convoque.
Sua presença é lei, sua voz, pura visão,
governa em silêncio, sem trono que a provoque.
E ao nascer da manhã, sob um céu em chama aceso,
ela ergue a cabeça, fitando o reino dourado.
Com um salto desaparece, deixando apenas o peso
de um mito vivo, eterno, pelo Pantanal coroado.
(Marcos Alves de Andrade)
Vídeo da Onça-pintada
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